MEMÓRIA E IDENTIDADE NA POÉTICA DE CONCEIÇÃO
EVARISTO E NOS LADRÕES DO MARABAIXO
Poética; Marabaixo; Estudo Comparado; Memória.
A presente dissertação de mestrado surgiu a partir do estudo realizado no Curso de Especialização em Linguística Aplicada e Ensino de Línguas concluído na Universidade Federal do Amapá (UNIFAP), a monografia intitulada “O tempo em perspectiva comparada nos contos ‘Olhos d’água’ e ‘Maria’ de Conceição Evaristo” (2022). Ao término do referido estudo, percebemos que as obras de Conceição Evaristo, em maior parte, são estudadas pelo viés da narrativa. Ao seguir o levantamento literário, crítico e teórico para o mestrado, notamos que são poucos os estudos no que tange à poética da escritora. Além disso, identificamos ao ler a obra Poemas da recordação e outros movimentos (2021) pontos de semelhança temática com os ladrões do Marabaixo — que representa a cultura viva da negritude amapaense e que permanece de geração em geração, transmitida por meio da oralidade. A partir dessa constatação buscamos através dessa pesquisa analisar a poética da escritora em comparação com os ladrões do Marabaixo. Sendo assim, busca-se localizar os elementos ligados a memória pessoal/coletiva e memória ancestral, como forma de compreender a cultura, a crença a partir de uma contextualização histórica e social. No primeiro capítulo, apresenta-se a fundamentação teórica que sustenta a análise, abordando os conceitos de memória, identidade, oralidade, cultura afro-brasileira e literatura de autoria negra, com destaque para o Marabaixo enquanto expressão oral, coletiva e de resistência simbólica. No segundo capítulo, procede-se à contextualização histórica e literária das autoras e obras selecionadas, destacando a trajetória de Conceição Evaristo e das autoras dos ladrões do Marabaixo – Maria José da Silva Libório, Esmeraldina Santos e Natalina Costa – como representantes da autoria feminina negra no Amapá. Por fim, o terceiro capítulo realiza uma análise comparativa entre quatro poemas de Conceição Evaristo: “Eu-mulher”, “Bendito o sangue de nosso ventre”, “Apesar das acontecências do banzo” e “De mãe” - e quatro ladrões do Marabaixo: “A curica”, “Natalina”, “Favela” e “Dona Flor”. A análise busca evidenciar as vozes femininas presentes nas composições, destacando temas como ancestralidade, resistência, identidade, racismo, violência e afeto, estabelecendo aproximações e singularidades entre as produções poéticas afro-brasileiras e afro-amapaenses, evidenciando pontos de convergência e especificidades culturais, com ênfase nos temas do racismo, da ancestralidade, da resistência e da construção identitária das mulheres negras. Dentre os autores escolhidos para a discussão teórica de base, destacamos sobre a literatura de autoria negra os apontamentos de Duarte (2009), Braga (1995) e Alves (2021), sobre o Marabaixo de Sampaio (2022). Além disso, a dissertação também se fundamenta na Teoria da Recepção de Hans Robert Jauss (1994), a fim de compreender como a escrevivência de Conceição Evaristo impacta os leitores. Utiliza-se ainda a obra A correspondência das artes (1983), de Étienne Souriau, para analisar os ladrões do Marabaixo enquanto expressões artísticas interdisciplinares produzidas por mulheres negras. Essas abordagens ampliam o diálogo entre literatura e manifestações culturais.